“Vocês são o mapa da dignidade, mesmo quando não aparecem nos mapas oficiais” A frase, de Breno Gomes Pereira, aluno da terceira turma do curso de extensão “Combate ao Racismo Ambiental e às Emergências Climáticas”, abriu a exposição “Olhares da Juventude Negra sobre os Territórios”, realizada em 25 de outubro, na sede da UNEafro Brasil, em São Paulo.
A mostra nasceu do trabalho coletivo de jovens negras e negros que transformaram suas vivências em expressões poéticas, cartográficas e políticas — revelando e denunciando as violações ambientais e de direitos humanos que marcam seus corpos e atravessam seus territórios.
O curso de extensão “Combate ao Racismo Ambiental e às Emergências Climáticas: uma perspectiva sobre os territórios” é uma iniciativa do Instituto de Referência Negra Peregum, em parceria com a UNIFESP e a Climate and Land Use Alliance. Voltado à formação de jovens negros e negras entre 18 e 29 anos, residentes de periferias urbanas ou do meio rural, o curso tem como propósito fortalecê-los como agentes climáticos, capazes de enfrentar o racismo ambiental a partir de suas próprias realidades e territórios — por meio do debate de conceitos, temas e experiências do movimento negro.
A atividade contou com a participação de dez alunos da formação Jornada Formativa pela Equidade Racial e de oito estudantes da UNEafro Brasil, que integrarão uma caravana rumo à COP30, em Belém. Na ocasião, os jovens ampliaram seu repertório de lideranças ao aprofundar conhecimentos sobre combate ao racismo ambiental, mitigação dos impactos das mudanças climáticas e ao promover uma rica troca de experiências com os participantes do curso de extensão.
Realizada no âmbito do eixo Clima e Cidade, a exposição surgiu como um convite à juventude para desenhar o Brasil que denuncia e sonha, que enfrenta o racismo ambiental e constrói esperança. As cartografias apresentadas foram produzidas como uma forma de avaliação da prática pedagógica do curso, cujo resultado tem como finalidade apoiar esses jovens no enfrentamento ao racismo ambiental e às emergências climáticas.
As obras produzidas pelos estudantes convidam o público a mergulhar em um Brasil profundo — nas realidades de quebradas, terreiros e quilombos espalhados por quatro biomas. Nesses territórios negros, os próprios estudantes revelam como o racismo ambiental se expressa na ausência de infraestrutura básica, expondo as belezas e vulnerabilidades de cidades e bairros contadas por jovens negros e periféricos graduandos de diversas áreas.
Para a assessora técnica, cientista social (UFPE) e mestra em educação, cultura e identidades, Cecília Godoi, o encerramento é também uma celebração do papel da educação na luta por direitos:
“É muito importante, eu estou muito feliz, muito realizada em construir mais um curso, onde a gente está formando jovens que são universitários, que acabaram de se formar, para que eles consigam, na sua atuação profissional, já construir e consolidar uma perspectiva crítica, tanto em relação ao meio ambiente quanto à situação da população negra no Brasil.
Um dos pontos também que é muito importante é que a gente está consolidando isso a partir do método que o movimento negro vem tocando, se responsabilizando ao longo de sua história, que é a partir da educação. Isso para a gente é fundamental, para prosseguirmos construindo a luta pela melhoria e pelos direitos da população negra no Brasil.”
A docente Sheila Dourado, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), também destacou o impacto da formação:
“Eu fiquei muito impactada e muito feliz de ver como os jovens se apropriaram desse conceito de racismo ambiental e como eles estão concretizando esse conceito, explorando os efeitos do racismo nos seus territórios e como eles têm um senso coletivo para lidar com esses problemas e encontrar soluções. Nós ficamos muito emocionadas com todos os depoimentos que ouvimos hoje — eu particularmente fiquei muito emocionada — e parabenizo todos e todas que participaram desse curso, de tamanha importância para a formação de jovens. Através deles, nós conhecemos tantas realidades diferentes no Brasil e um pouco da diversidade e também dos problemas que enfrentam.”
O estudante Eduardo Marques, professor de geografia e graduando em psicologia, compartilhou como a formação ampliou sua visão sobre o tema:
“A importância do curso para a gente é poder compreender o racismo ambiental nesse momento de emergências climáticas, ampliar o nosso conhecimento. Pensando na atuação do professor de geografia, como podemos entender o atravessamento do racismo ambiental na disciplina e na formação dos alunos. E também, na psicologia, como esses atravessamentos impactam a saúde mental da população negra. O curso foi muito importante para ampliar nosso conhecimento, entender formas de atuação, de combate, de luta e de trabalho em rede.”
Encerrando o ciclo formativo, Maíra Silva, coordenadora de combate ao racismo ambiental do Peregum, destacou o papel transformador do curso e das cartografias apresentadas:
“Hoje a gente está aqui na UNEafro para encerrar um ciclo formativo da terceira edição do curso de combate ao racismo ambiental, com jovens de todo o Brasil, de diferentes biomas, para falar do racismo ambiental a partir das violações que acontecem nos territórios. Mas também é um curso que conectou afetos, sentimentos e corações, e que inspira a gente a seguir no movimento com essa nova leva de jovens que estão em seus territórios, mas que também estão na universidade, promovendo educação, pesquisa e conhecimento.
texto| Mayara Nunes









































