Iniciativa do Instituto Peregum forma jovens lideranças negras e mobiliza cursinhos populares a compartilharem suas vivências
O Instituto de Referência Negra Peregum, em parceria com a UNEafro Brasil está promovendo a Jornada Formativa pela Equidade Racial na Educação, um projeto que integra o eixo de educação do Instituto e busca potencializar jovens lideranças universitárias que participaram de cursinhos populares.
A Jornada reúne dez jovens universitários egressos da UNEafro Brasil Eles recebem bolsas-permanência e participam de um percurso híbrido com cinco encontros presenciais e cinco encontros online durante 6 meses. A indicação dos participantes priorizou a diversidade e a equidade, considerando marcadores sociais como gênero, raça, orientação sexual e territorialidade.
Formação para transformar a educação
A Jornada Formativa tem como missão fortalecer a luta antirracista na educação e nos territórios periféricos, atuando de forma direta sobre três impactos que estruturam o trabalho do Instituto Peregum: fortalecer cursinhos populares e redes do movimento negro, ampliar sua formação para a luta antirracista nas universidades e impactar positivamente sua trajetória pessoa e profissional.
Segundo Maira Mantovani, coordenadora do projeto pelo Instituto Peregum, a proposta é criar um caminho de formação para que esses jovens se tornem referências e lideranças no futuro:
“A gente quer que esses jovens sejam multiplicadores, que possam retornar aos seus territórios e cursinhos de origem levando novos aprendizados e novas estratégias de enfrentamento ao racismo na educação.”
Ela ressalta ainda que a Jornada é um investimento direto na juventude negra:
“Não é só sobre formar bons profissionais, é sobre formar sujeitos políticos que compreendam seu papel na construção de uma sociedade antirracista.”
Encontros que cruzam saberes e experiências
Os encontros têm como base temas que atravessam as da juventude negra e os desafios da educação no Brasil: educação e direitos humanos, relações étnico-raciais, gênero e raça, decolonialidade, agroecologia, racismo ambiental, ancestralidade, direito e diversidade.
O primeiro encontro aconteceu na sede da UNEafro Brasil, em São Paulo, e contou com a participação da educadora Edineia Gonçalves, que abordou relações étnico-raciais e educação em direitos humanos. Para ela, o desafio da educação é fazer emergir o conhecimento do outro e construir uma escola intencionalmente antirracista:
“O grande desafio da educação é fazer com que o conhecimento do outro venha à tona. E nós ainda não conseguimos fazer isso plenamente. Precisamos construir uma educação que tenha orgulho de todas as culturas que formam este país, e que reconheça o papel fundamental da população negra nesse processo.”
No segundo encontro, realizado na Ocupação 9 de Julho, no centro de São Paulo, o tema foi Gênero e Raça na Educação, com a presença de Mariana Teixeira, coordenadora do Núcleo Yabás da UNEafro em Jacareí. Ela destacou a importância de articular as lutas e de reconhecer a juventude negra como intelectualidade:
“Foi uma aula muito rica. A turma participou bastante. Trouxemos a perspectiva do movimento negro como intelectualidade e reforçamos que só a luta muda a vida. Vivemos uma realidade muito violenta, então precisamos estar unidos, conscientes e organizados para enfrentá-la.”
O terceiro encontro levou a turma até a Aldeia Filhos Dessa Terra – Espaço Kaimbé, no Núcleo Luizinha Pankararú em Guarulhos, onde foram recebidos pela liderança indígena Poyanawa-Puri. A atividade abordou decolonialidade, educação e agroecologia e trouxe reflexões profundas sobre ancestralidade, identidade e resistência dos povos indígenas em territórios urbanos:
“A retomada dos nossos saberes é também uma forma de resistir e de educar”, afirmou Poyanawa-Puri. “A educação popular pode ser o caminho para reconstruir vínculos com a terra, com a memória e com as lutas dos nossos povos.” afirmou.
Construindo redes e lideranças negras
Os jovens participantes da Jornada são bolsistas e cotistas que estudam em diversas instituições de ensino superior, como FAAP, FIPE, IFSP, Anhanguera, Uninter, UFF, UNIFESP, Faculdade Paulista de Ciências da Saúde, Cruzeiro do Sul e Faculdade Cidade Verde. O projeto tem como proposta fortalecer suas trajetórias acadêmicas, políticas e comunitárias, além de conectá-los às redes de educação popular e ao movimento negro.
Além de beneficiar diretamente os participantes, os encontros são abertos ao público geral, fomentando novos debates e criando um espaço de pertencimento e engajamento.
Para Maira, essa abertura também é estratégica:
“Queremos que outras pessoas se reconheçam nesse processo, que vejam esses jovens e pensem: eu também posso ocupar esse lugar, eu também faço parte dessa transformação.”
Com a Jornada Formativa, o Instituto de Referência Negra Peregum busca formar e capacitar novas lideranças negras, gerando impactos duradouros nos territórios, fortalecendo cursinhos populares e articulando redes regionais, nacionais e internacionais.
“Nosso compromisso é com a transformação estrutural da educação”, finaliza Maira. “Não é apenas incluir jovens negros nas universidades, é garantir que eles estejam fortalecidos, conectados e preparados para transformar essas instituições desde dentro.”
projeto pretende consolidar estratégias coletivas que potencializem as lutas por justiça social e racial, conectando saberes, práticas e movimentos em diferentes escalas e transformando a educação brasileira a partir da base, com protagonismo negro, popular e antirracista.
1º Encontro: Com a professora Edneia Gonçalves na sede da UNEafro Brasil na Bela Vista em São Paulo











2º Encontro: Com Mariana Teixeira no Núcleo UNEafro Ocupação 9 de Julho em São Paulo










3° Encontro: Com a liderança indígena Poyanawa-Puri no no Núcleo UNEafro Luizinha Pankararú em Guarulhos








