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Peregum promove apoio integral na preparação para concursos jurídicos com metodologia inovadora

17 / 09 / 2025

Programa Esperança Garcia prepara candidatos negros para concursos com apoio pedagógico, psicológico, financeiro e mentoria de carreira

Com uma metodologia inovadora desenvolvida pelo Instituto de Referência Negra Peregum, o Programa Esperança Garcia tem transformado de maneira decisiva a vida de seus participantes. Criado em 2023, em parceria com a Advocacia-Geral da União e o Ministério da Igualdade Racial, o programa busca ampliar a representatividade de pessoas negras na Advocacia Pública.

Mais do que um cursinho preparatório, a iniciativa reúne uma metodologia pedagógica diferenciada (Trilha do Conhecimento Peregum), acompanhamento psicológico, apoio financeiro e mentoria de carreira. O resultado é um rol de ações que vem possibilitando a dezenas de pessoas negras ressignificarem e expandirem suas trajetórias acadêmicas e profissionais.

Esperança é o que me move 

A trajetória profissional de pessoas negras raramente é linear; inúmeros obstáculos se interpõem até a conquista da tão sonhada estabilidade. O início da vida profissional, em especial, costuma ser marcado por dificuldades, e a falta de suporte financeiro e emocional, muitas vezes, resulta em desânimo e até na desistência — realidade ainda mais dura em carreiras elitizadas, como são as jurídicas.

É nesse contexto que o Programa Esperança Garcia tem se mostrado um verdadeiro divisor de águas. Para muitos cursistas, ele chega em momentos de incerteza e oferece não apenas preparação, mas também acolhimento e possibilidades reais de transformação.

Para Sintia Nascimento Ferreira, 33 anos, pertencente à Comunidade Quilombola de Santiago do Iguape, em Cachoeira (BA), o impacto tem sido decisivo. “Costumo dizer que ele está sendo o ‘Esperançar’ em minha trajetória acadêmica e profissional. O conjunto de subsídios oferecidos é fundamental nesse processo de preparação para concursos, com uma metodologia que já percebo trazer avanços significativos”, destaca.

A metodologia desenvolvida pelo Instituto Peregum cria as condições necessárias para que os estudantes possam se dedicar integralmente à preparação. Entre os apoios oferecidos, destacam-se o programa Bolsa Permanência, que beneficia 30 concurseiros e garante a estrutura básica para os estudos, e o acompanhamento em saúde mental, apontado pelos participantes como essencial. Somam-se a esses recursos as mentorias com profissionais experientes da carreira jurídica, que compartilham métodos e estratégias de estudo, encurtando o caminho até a aprovação.

Para Kailane Souza Alves, 32 anos, bolsista do programa e integrante da Comunidade Quilombola de Assento, no município de Abaíra (BA), a experiência superou todas as expectativas.

“Nunca imaginei participar de um projeto tão completo, que reúne material de estudos e aulas de qualidade, com professores de alto nível, capazes de nos guiar e mostrar o caminho da aprovação. O apoio emocional tem sido fundamental para a nossa preparação, assim como o auxílio financeiro, que nos permite adquirir materiais e custear viagens para a realização de provas. A mentoria com procuradores da União, que já passaram por essa fase, nos ensina estratégias valiosas de estudo. Além disso, o plantão de dúvidas, no qual professores nos atendem ao vivo após as aulas, é essencial para esclarecer pontos importantes. Realmente é algo surreal. Por isso, me comprometi a dar o melhor de mim, com a certeza de que a colheita será certa”, afirma a estudante.

Mais do que preparar para aprovações em concursos, o Programa Esperança Garcia inspira-se na longa trajetória de cursinhos populares como, por exemplo, o da UNEafro Brasil, e busca promover uma verdadeira transformação pessoal. Diferencia-se por oferecer uma formação crítica, em que a troca de experiências e a escuta coletiva fortalecem tanto a autoestima quanto o senso de pertencimento. Nesse espaço, os cursistas encontram apoio mútuo e constroem juntos uma rede de fortalecimento.

A estudante Alinne Monteiro, 37 anos, pertencente à Comunidade Quilombola Tiningu, localizada na zona rural de Santarém (PA), destaca como a iniciativa tem sido importante e transformadora em sua vida, sobretudo por possibilitar o acesso a um direito fundamental. “Fazer parte desse projeto é uma experiência incrível. Posso dizer que estou sendo assistida, minha autoestima foi fortalecida e, junto às demais alunas, adquiri novos aprendizados, agora compreendendo o Direito brasileiro a partir de uma perspectiva antirracista”, explica.

O impacto do Programa Esperança Garcia evidencia que políticas públicas afirmativas bem estruturadas não apenas preparam para concursos, mas também constroem futuros mais justos e dignos. No entanto, a realidade da advocacia pública brasileira ainda reflete profundas desigualdades raciais.

Embora pessoas negras representem 56% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a composição da Advocacia-Geral da União (AGU) revela profundas desigualdades raciais. Apenas 44% dos membros são homens brancos, enquanto mulheres negras correspondem a apenas 6% do quadro, o que evidencia uma sub-representação alarmante. Esse cenário traduz uma disparidade histórica no acesso e na permanência de pessoas negras nas carreiras jurídicas públicas.

O Programa Esperança Garcia surge como uma resposta a essa desigualdade, oferecendo preparação específica para concursos jurídicos. Ao fortalecer a autoestima e ampliar o conhecimento do Direito a partir de uma perspectiva antirracista, iniciativas como essa são fundamentais para transformar o perfil da advocacia pública brasileira, tornando-o mais plural, representativo e alinhado com os princípios constitucionais de equidade e justiça social.

“Não se trata apenas de preparar pessoas negras para concursos, mas de garantir condições reais de permanência, fortalecendo autoestima, identidade e pertencimento. Ao oferecer suporte pedagógico, financeiro e emocional, estamos não apenas formando futuros profissionais da advocacia pública, mas também semeando uma transformação estrutural que reposiciona pessoas negras no centro da justiça brasileira”, afirma Vanessa Nascimento, diretora institucional do Instituto de Referência Negra Peregum.