Apesar dos avanços na política de cotas e no acesso ao ensino superior, o desafio da permanência estudantil ainda é um obstáculo relevante para estudantes em situação de vulnerabilidade. O Instituto de Referência Negra Peregum lança uma campanha de financiamento coletivo com o objetivo de arrecadar R$ 180 mil para garantir o funcionamento dos cursinhos populares da UNEafro Brasil e oferecer suporte a estudantes em situação de vulnerabilidade. A ação, disponível na plataforma Vakinha, está aberta a contribuições de qualquer valor.
No Brasil, apenas cerca de 36% dos jovens que concluem o ensino médio ingressam no ensino superior, de acordo com dados do IBGE e do Inep. Quando observamos o recorte racial, a desigualdade se aprofunda. Considerando a população jovem entre 18 e 24 anos, cerca de 50% dos brancos estão no ensino superior, enquanto entre os jovens negros (pretos e pardos) essa proporção é de apenas 30%. Isso evidencia os obstáculos estruturais enfrentados pela juventude negra no acesso à universidade, refletindo os impactos do racismo na trajetória educacional e na garantia de direitos.
Segundo dados da PNAD Contínua do IBGE, em 2023 a taxa de evasão no ensino superior atingiu 70,6% entre jovens negros de 18 a 24 anos, enquanto foi de 57% entre jovens brancos. Apenas 19,3% dos negros dessa faixa etária cursavam ou haviam concluído a graduação — contra 36% dos brancos. A pesquisa da USP e da Unifesp sobre o ENEM de 2019 apontou que estudantes negros e de baixa renda obtiveram, em média, entre 130 e 140 pontos a menos do que estudantes brancos com renda de R$ 5 mil por pessoa, reduzindo drasticamente suas chances em processos seletivos competitivos.
Os recursos serão utilizados para cobrir custos como alimentação nos dias de aula presencial, transporte de educadores voluntários, acesso à internet, inscrições em provas, compra de equipamentos pedagógicos e realização de atividades preparatórias para o ENEM. Também está prevista a manutenção de infraestrutura básica dos núcleos e apoio direto à permanência dos alunos.
Essa desigualdade no acesso e na permanência na universidade também tem raízes no percurso anterior: o Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (CEDRA), com base em dados do INEP, identificou que a taxa de abandono escolar no ensino médio foi de 9,3% entre estudantes negros, quase o dobro da taxa observada entre estudantes brancos, que foi de 5%.
Os cursinhos populares, como os da UNEafro Brasil, atuam diretamente para enfrentar esses desafios. Além da preparação para o ENEM e vestibulares, essas iniciativas promovem formação crítica e apoio socioemocional, contribuindo para a permanência dos estudantes e fortalecimento da expectativa de ingresso na universidade. Um estudo publicado na revista Educação e Território ilustra como ex-alunos de cursinhos comunitários, conseguiram ingressar em cursos como Direito em universidades públicas ao superar obstáculos socioeconômicos com apoio dos cursinhos.
Embora esses investimentos contribuam para democratizar o acesso ao ensino superior e fortalecer a representatividade negra, cursinhos populares enfrentam desafios recorrentes. Pesquisas acadêmicas apontam escassez de recursos financeiros, infraestrutura limitada e dependência de voluntariado, o que requer apoio institucional e investimentos para expandir o impacto dessas iniciativas.
A campanha busca enfrentar esses desafios por meio da mobilização de recursos que permitam a continuidade da atuação dos cursinhos e o fortalecimento das trajetórias educacionais de seus participantes.
As doações podem ser feitas diretamente na página da campanha: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/doe-saber-invista-em-quem-quer-voar-alto
Também é possível contribuir via PIX utilizando a chave: 5644149@vakinha.com.br
Mais informações estão disponíveis no site da campanha. Os doadores serão informados por relatórios periódicos e atualizações sobre o uso dos recursos, garantindo transparência e prestação de contas.