Formação de novos agentes climáticos é uma resposta à urgência da crise ambiental que afeta de forma desproporcional a população negra e periférica
O Instituto de Referência Negra Peregum encerrou na última quinta-feira, dia 7 de novembro, a segunda edição do curso “Combate ao Racismo Ambiental: Uma perspectiva sobre territórios”, em seminário homônimo que reuniu especialistas, ativistas e cursistas em uma noite de rica discussão, encontros produtivos, intercâmbio e celebração, na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
A formação é uma iniciativa do Instituto de Referência Negra Peregum, em parceria com o Grupo de Pesquisa Laroyê e o apoio do Climate and Land Use Alliance (CLUA). As aulas foram ministradas no formato online síncrono para jovens negras e negros, de 18 a 29 anos, que residiam em periferias, no meio rural ou provindos de comunidades tradicionais, graduandas e graduandos de qualquer área do conhecimento, com atuação no combate ao racismo ambiental e emergências climáticas.
Os impactos das mudanças climáticas no cotidiano das populações negras, quilombolas e indígenas já são uma realidade e trabalhar no desenvolvimento de estratégias para enfrentar as violações de direitos causados pelo racismo ambiental em diferentes biomas é essencial para garantir um futuro mais justo e igualitário.
Para isso, a diretora-executiva do Instituto Peregum, Vanessa Nascimento, abriu o encontro agradecendo as parcerias pelo apoio ao projeto e organização do evento, e dissertou sobre o quanto formações como essa são estratégicas para o movimento negro.
“A missão de Peregum é fortalecer as organizações negras brasileiras para uma luta conjunta por políticas públicas efetivas, mas também é uma estratégia de Peregum racializar os debates para a criação e a formulação dessas políticas. Este curso vem dessa estratégia, que consiste em traçar, junto à juventude, essa população que está no ensino superior, se formando e atuando cada um no seu campo, esse recorte racial que, muitas vezes, não é feito dentro dos espaços de produção de conhecimento e disputa política”, destaca Vanessa.
O evento reuniu os representantes das instituições apoiadoras, entre eles, o chefe de gabinete da Universidade Federal de São Paulo, o professor Dan Levy; a pró-reitora adjunta da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas (PRAEPA), professora doutora Ellen de Lima Souza; a cogestora do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) e a ativista do Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras, Cristiane Ribeiro.
Para a Dra. Ellen de Lima Souza, pró-reitora adjunta da Universidade Federal de São Paulo e coordenadora do Grupo de Pesquisa Laroyê, o encerramento da segunda edição desse curso representa um avanço importante na luta das universidades brasileiras por mais excelência acadêmica, inclusão e diversidade.
“Eu entendo que um dia como hoje marca aquilo que essa universidade busca, como todas as universidades do Brasil, que é a excelência. E a excelência acadêmica só se faz com diferença, com diversidade, só se faz com isso no âmbito territorial, da perspectiva do pertencimento étnico-racial, de gênero, da orientação sexual e de todas as ordens das diferenças. Isso é o que marca a excelência acadêmica, isso é o que a gente busca. É importante pensar que quando a gente se une em coletivos negros, o Laroyê, o Nzinga, e todos esses outros dentro da universidade, a gente mostra para que serve a universidade e que ela só faz sentido quando é composta por todos nós”, afirma Dra. Ellen.
Para a coordenadora da área de Combate ao Racismo Ambiental do Instituto de Referência Negra Peregum e coordenadora geral da formação, Maíra Silva, o curso veio com o objetivo de ir além da discussão climática, compreendendo que as emergências da população negra começam muito antes da pauta climática.
“Chegamos a esse momento como resultado de um longo trabalho realizado por muitas mãos. No início de abril, o Instituto Peregum, em parceria com o Grupo de Pesquisa Laroyê, deu início a esse curso de extensão e, ao longo desses meses, os estudantes puderam aprender a partir dos temas e intersecções do racismo ambiental e com diversas discussões que potencializaram os seus trabalhos dentro e fora da academia. O racismo ambiental traz várias intersecções e é urgente essa discussão dentro dos territórios. É a partir dessas vozes que a gente encontra as soluções e as estratégias de combate às violações de direitos humanos e ambientais”, explica Maíra Silva.
O encontro contou com duas mesas temáticas: “Panorama sobre o racismo ambiental e emergências climáticas em diferentes biomas e regiões brasileiras” e “Vozes da juventude negra a partir dos seus biomas”, que reuniu os mestres e alunos do curso em uma exposição inédita de pesquisas acadêmicas sobre o impacto do racismo ambiental nos territórios onde vivem e atuam.
Estiveram presentes o pesquisador do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Djacinto Santos; a ativista climática antirracista e integrante do Vozes Negras pelo Clima, Camila Aragão; a coordenadora-geral do projeto Paraopeba, responsável pela equipe de marcadores sociais da diferença executados pela Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social – AEDAS, Cecilia Godoi e a bióloga e diretora-executiva do Instituto Mapinguari, Hannah Baliero.
No encerramento do seminário, os alunos apresentaram a “Carta Manifesto da Juventude Negra dos Territórios Rumo à COP 30“, com o objetivo de chamar a atenção e buscar soluções urgentes para a justiça climática no Brasil. A iniciativa de Peregum, materializada neste curso, e o engajamento dos estudantes comprovam a importância da luta contra o racismo ambiental para a construção de um futuro mais justo e equitativo.
Texto por Mayara Nunes
Imagens por Caio Chagas