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Pesquisa “Percepções sobre o racismo” do Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto Seta é divulgada na imprensa nacional

2 / 08 / 2023
Notícia

Os dados foram apresentados de forma abrangente em diferentes canais midiáticos que abordaram diversas ramificações deste estudo

A pesquisa encomendada pelo Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto Seta, e realizada pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) foi divulgada em recentes publicações da imprensa nacional. Dados importantes sobre como a população brasileira enxerga o racismo ganharam espaço nas três edições do Jornal da Globo, na Folha de São Paulo, no Estadão, Nexo, Carta Capital e também na mídia independente. 

A grande imprensa citou dados relevantes da pesquisa. O Jornal da Globo, da TV Globo, por exemplo, fez um levantamento das principais percepções da população onde 51% dos entrevistados afirmam já ter presenciado alguma situação de racismo e 81% concordam que o Brasil é um país racista. A emissora também divulgou sobre a percepção de tratamentos diferenciados pelas instituições de segurança pública, onde 79% acreditam que a polícia se baseia na cor da pele e fenótipos como cabelo, roupa na hora da abordagem e 84% afirma que a polícia trata de forma diferente pessoas brancas e pessoas negras.  

Em entrevista ao Jornal o coordenador executivo de projetos do Peregum, Marcio Black fala como a população brasileira vem reconhecendo o racismo no seu dia a dia. “Reconhecem que o racismo é o principal fator gerador de desigualdade hoje no Brasil, que as pessoas negras sofrem mais violência policial, que as pessoas negras têm menos acesso a oportunidades de trabalho, de acesso a renda, de educação. Isso abre uma oportunidade também de entender onde estão as lacunas nas quais a gente precisa atuar para superar justamente essas desigualdades que o brasileiro já consegue perceber”, afirma o coordenador

O Jornal da Globo também destacou um dado que aponta para as instituições de ensino, 38% das pessoas que afirmam ter sofrido algum tipo de racismo relatam que a violência ocorreu dentro dos espaços de educação formal. Marcio Black fala da ausência de uma abordagem profunda sobre racismo dentro das escolas que afasta a compreensão da diversidade e faz com que jovens continuem reproduzindo e perpetuando o racismo, o coordenador cita também a importância de pautarmos uma educação antirracista. 

 “Como que a gente qualifica melhor esse espaços para que as nossas crianças não precisem passar por essas violências logo cedo, e a gente entende que, por um lado, elas vão sofrer essas violências ao longo da vida, se a gente não conseguir estancar isso ali na escola, os estudantes brancos vão continuar reproduzindo a violência sem estarem bem informados sobre o que está acontecendo”, explica o coordenador Marcio Black. 

Um país que reconhece o racismo, mas não reconhece os racistas 

Em publicação, na Folha de São Paulo, foi destacado que os brasileiros afirmam viver em um país racista, mas negam descriminação. A pesquisa mostra que 81% das pessoas entrevistadas, o Brasil é um país racista. No entanto, apenas 11% afirmaram ter atitudes discriminatórias. 

Em entrevista para o jornal, a historiadora Ana Paula Brandão, gestora do projeto Seta, aponta o motivo pelo qual a pesquisa leva a uma contradição: a população, majoritariamente, reconhece a existência do preconceito motivado por raça, mas não acredita reproduzi-lo. “Há um desconhecimento sobre o racismo ser algo estrutural”, diz.

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O podcast de notícias “Durma com essa”, do Nexo Jornal, aponta que essa contradição já foi identificada em outros estudos. Em entrevista, o sociólogo Thales Vieira que é co-diretor do centro de pesquisa “Observatório da Branquitude” comentou sobre o dado. 

“É sintomático que diferentes institutos, organizações, com diferentes metodologias, em diferentes tempos, tenham chegado à mesma conclusão, que o brasileiro concorda que vive num país racista, mas não pratica racismo, e não conhece quem o pratica. É como se houvesse um crime que só produzisse vítimas, mas não tivesse algoz”. 

Nas palavras do sociólogo, não é à toa que houve um crescimento muito forte de estudos sobre a branquitude, que buscam colocar em perspectiva o racismo sobre a ótica de quem o exerce e garante vantagens simbólicas e materiais diante dessa estruturalidade. “Não é mais possível analisar esses fenômenos sócio-raciais brasileiros se elencar o branco e suas estruturas de privilégio que são fincadas nesse racismo que tem raízes históricas lá na escravização, mas que são reificadas diuturnamente, sem essa implicação o racismo seguirá como esse crime sem autoria”. afirma Thales Vieira. 

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O jornal O Estado de São Paulo também abordou essa contradição na forma como a população brasileira reconhece as formas de materialização do racismo. O jornal destacou dados sobre como o racismo é percebido em ambientes sociais, onde apenas 10% dizem que trabalham em instituições racistas, 13%, que estudam em instituições educacionais racistas, 12% que integram uma família racista, 36%, que convivem com pessoas que têm atitudes racistas.

Para Marcio Black, esses dados deixam claro o poço de contradições que é o racismo no Brasil. “Por isso mesmo a gente consegue entender porque ele se perpetua tanto no tempo e no espaço. Ele vai criando essas contradições e vai mascarando muitas das relações sociais que a gente vive.”

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A criminalização tem cor 

A mídia independente que atua cotidianamente na desconstrução da narrativa hegemônica também divulgou a pesquisa. O enfoque foi em apresentar os dados sobre criminalização e descriminação racial. O Alma Preta Jornalismo divulgou a avaliação unânime entre os brasileiros de que pessoas pretas são as que mais sofrem com o racismo (96%), indígenas (57%) e imigrantes do continente africano (38%)

O Uol também divulgou dados sobre a criminalização da população negra, onde uma maioria expressiva (88%) alega que essa parcela da população é mais criminalizada do que os brancos.

Tivemos destaque também no portal “Periferia em Movimento” que trouxe dados sobre o reconhecimento do racismo em abordagens policiais e evidenciou a fala de Ana Paula Brandão, gestora do Projeto Seta e Diretora Programática da Actionaid. 

“Esses dados escancaram o racismo no Brasil, e demonstra que a população em geral reconhece o racismo em uma das suas faces mais cruéis: a violência institucional, no caso específico, a policial. De forma prática, ela é reflexo do racismo que estrutura nossas instituições, da maneira como naturalizamos a violência contra as pessoas negras e as moradoras de periferia – cuja a maioria é negra”, analisa Ana Paula

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