A iniciativa busca promover um ambiente digital mais inclusivo e respeitoso, orientando profissionais da comunicação a combaterem o racismo estrutural no ambiente digital
No dia 27 de março, o Instituto de Referência Negra Peregum, em parceria com a Mozilla Foundation, lançou o “Manual de Boas Práticas Antirracistas na Comunicação Digital”, o material educativo, em formato de e-book, apresenta práticas antirracistas na comunicação digital, com o objetivo de promover um ambiente inclusivo nas interações online e combater o racismo e o discurso de ódio no meio digital.
O lançamento deste manual é uma ação estratégica do Projeto GriôTech, que busca inserir a população negra nas discussões sobre justiça e inclusão digital. O programa reconhece que as barreiras sociais presentes no mundo físico foram transportadas para o mundo digital, tornando os desafios da população negra ainda mais evidentes, ampliando as desigualdades e dificultando o acesso igualitário ao conhecimento.
O evento aconteceu na sede do Instituto Peregum, em São Paulo. A noite foi marcada por uma série de reflexões e debates sobre as transformações do cenário online, melhores práticas de comunicação antirracista e estratégias para promover a justiça racial através da mídia digital, iniciando com a abertura da diretora institucional de Peregum, Vanessa Nascimento, e com Marcelle Chagas, autora do projeto e fellow da Mozilla Foundation.
A diretora institucional de Peregum, Vanessa Nascimento, afirmou durante o evento que o compromisso das ações do Instituto, por meio de projetos como o GriôTech, é com a transformação rumo a uma sociedade mais equalitária e antirracista. “Este é o momento para analisarmos e discutirmos como as mudanças no cenário digital influenciam nossas comunidades. O evento, realizado por Peregum, proporciona um espaço para troca de ideias, debates e, principalmente, ação concreta. Estamos comprometidos com a transformação. Nosso objetivo é criar um futuro em que a população negra ocupe todos os espaços de cidadania, incluindo o espaço digital e que este seja acessível a todos”, afirmou Vanessa.
A Fellow, Marcelle Chagas, relata que o GriôTech foi inspirado pelo papel tradicional do Griô, uma figura ancestral originária da África Ocidental, de países como Mali, Gâmbia, Guiné, Serra Leoa e Senegal. O Griô é um guardião e transmissor do conhecimento através da oralidade. A ideia do projeto é integrar o conhecimento ancestral com as tecnologias mais avançadas, por isso, GriôTech. A parceria com o Instituto Peregum, segundo ela, busca trazer soluções que honram as tradições culturais e, ao mesmo tempo, promovem a inclusão digital.
“Peregum já tem um trabalho consolidado na luta pelos direitos humanos e é muito importante que agora também esteja atento a outros desafios que a população negra enfrenta, principalmente no contexto digital. O GriôTech, que é um projeto desenvolvido pela organização, mostra essa preocupação da instituição em criar soluções a partir da imagem do Griô, que é da ancestralidade, e olhar para a população negra, que tem suas vulnerabilidades ampliadas no contexto digital”, afirma Marcelle.
Após as falas de abertura, o evento contou com um painel de convidados especiais que compartilharam suas experiências e perspectivas sobre o impacto do racismo no ambiente digital e como promover a justiça digital e a diversidade diante de um cenário político tão desafiador.
A mesa “Justiça digital para uma sociedade mais justa” contou com a participação de Flávia Lima, diretora de diversidade da Folha de São Paulo; Lívia Lima, jornalista, mestre em Estudos Culturais e cofundadora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Nós Mulheres da Periferia; Cíntia Gomes, diretora institucional e cofundadora da Agência Mural; Pedro Borges, jornalista e cofundador do Portal Alma Preta; e com a mediação da Verônica Lima, coordenadora de comunicação na Associação de Jornalismo Digital.
Para a diretora de diversidade da Folha de São Paulo, Flávia Lima, a iniciativa se faz essencial, especialmente considerando o crescente processo de profissionalização de comunicadores negros e sua inserção em discussões como essa. “Estar aqui com essas pessoas debatendo jornalismo, para mim, é muito importante. Há 10, 15, 20 anos atrás, isso era impensável. A gente tem aqui um grupo de pessoas negras interessadas na discussão de expressões e conceitos que nos interessa e também interessadas em discutir de que forma a gente se encaixa. O manual é muito importante porque a gente tem expressões, termos e conceitos bastante conhecidos que vêm sendo distorcidos e é importante eles estarem concentrados ali num documento que você possa consultar, tirar dúvidas e usá-los ali no seu dia a dia”, explica Flávia.
Para Lívia Lima, jornalista e cofundadora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias, o manual é uma potencial ferramenta para o enfrentamento ao racismo. “É fundamental a gente se aquilombar, estar entre os nossos, discutir as reflexões diante do contexto atual e pensar em estratégias para, juntos, resolvermos problemas que têm a ver com comunicação e, acima de tudo, com o enfrentamento ao racismo que o Instituto Peregum pauta tanto na área de comunicação quanto em outras áreas. Então, é de fundamental importância a gente estar junto mesmo, se vendo, falando e trocando informação”, pontua a comunicadora.
O Manual de Boas Práticas Antirracistas na Comunicação Digital é um material essencial para todos aqueles envolvidos na criação e distribuição de conteúdo online e para todos que desejam construir um ambiente digital mais justo, representativo e livre de estereótipos radicais. Nele, você encontrará diretrizes práticas para uma comunicação digital antirracista, estratégia para combater a desinformação e os discursos discriminatórios, reflexões sobre vieses e representações raciais na comunicação.
Saiba mais, acessando a Landing Page do programa GriôTech:
https://programas.peregum.org.br/grio-tech
Texto| Mayara Nunes
















